sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
LIÇÕES DO FUTEBOL
O futebol ensina algumas lições, quando se tem a ventura de ser escolhido para participar da gestão do Departamento Profissional de um clube. E ensina para quem quer aprender e tem humildade para tanto, diga-se de passagem. Uma das primeiras e mais importantes é aquela que diz que se queres contratar um profissional, jogador, treinador ou outro, tens que encaminhar, durante um tempo, alguns negócios em paralelo. Nada mais certo, em futebol, do que a máxima de que "QUEM TEM UM, NÃO TEM NENHUM".
Contei aqui sobre a famosa negociação Nilmar e Saviola. Naquele período outros negócios foram iniciados, desde "sondagens", pesquisas, conversas, busca de informações. Além desses dois citados acima, estiveram na agenda, no mesmo período: Lucho Gonzáles, Lisandro López, Maxi Rodriguez (o original argentino) e Nacho Scocco. Os negócios foram andando em paralelo e, como costuma ocorrer, algumas portas foram se fechando. Nilmar não foi liberado, à época, pelo Sheik. Saviola recebeu convite para jogar a Champions League por um clube turco. Maxi Rodriguez, praticamente contratado, errou o pênalti na semifinal da Libertadores 2013, contra o Galo Mineiro, e desistiu de sair do clube argentino, para não caracterizar covardia e deslealdade. E por aí foi.
A janela estava se fechando quando, no último dia, uma característica do modelo de gestão e de tomada de decisão vigente no INTER naquele contexto, conseguimos fechar com Nacho Scocco. Tinha tudo para dar certo. Não deu. Pior teria sido se não conseguíssemos contratar ninguém naquele momento. Acho que teríamos sido linchados em praça pública.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
Um perigo ronda a eleição do INTER
Em meados dos anos 1930, Hitler
dominou o Reichstag, o Parlamento Alemão, unificou os cargos de Chanceler, que
ele ocupava, com o de Presidente da Alemanha, vago com a morte de Hindenburg.
Daí em diante a Alemanha e toda a sua influência na Europa estavam recolhidas à
cabeça de um único e absoluto líder. Aconteceu o que aconteceu.
Em clubes de futebol esta situação
é muito comum. Dizem que o clube é presidencialista e pronto: “o homem” pode
decidir o que bem entender. Suas decisões são transformadas em lei e para
qualquer decisão tem que saber “o que o homem” pensa; “o que o homem” decide. Por
vezes “o homem” toma decisões equivocadas e o clube leva anos, ou décadas para
desfazer a lambança. Temos vários exemplos por aí. É só lembrar.
Isto acontece se, e somente se, o
CONSELHO DELIBERATIVO está também dominado pelo “homem”. Isso é ruim para o
clube. Vitório tem já 167 apoiadores no CD; Marcelo 91. Se suas chapas para o
Conselho forem as únicas a obter o coeficiente de 15%, a maldita cláusula de
barreira, uma perigosa hegemonia se cristaliza no INTER. Por mais bem
intencionados e brilhantes que sejam os candidatos presidenciais, o domínio do
Conselho é extremamente arriscado para o futuro do CLUBE.
Assim, o mais sensato a fazer é
votar nopresidente que você ache melhor, mas não dar seu voto também à chapa de mesmo número para o Conselho.
sábado, 24 de maio de 2014
O DIRIGENTE DO FUTURO E O FUTURO DOS DIRIGENTES NO FUTEBOL II
De 2000 A 2002: a ruptura.
Tu podes gostar ou não do Fernando Miranda. Gostando ou não é injusto não admitir que ele liderou uma revolução na gestão do INTER. Acredito até que inaugurou uma nova fase na história do clube. Ele e seus companheiros, entre eles João Patrício Herrmann, Pedro Silber, Caco Souto e outros, com o movimento INTER 2000 começaram a detonar as bases da política do clube. Foram transformando o clube no que é hoje: um clube onde os temas de gestão, especialmente de gestão financeira, têm lugar e atraem atenção. Reuniões do Conselho Deliberativo para tratar de assuntos de contas, gestão financeira e patrimonial, demonstrações contábeis têm sempre uma grande frequência e são extremamente polêmicas.
Foi a longa ausência de resultados de campo, associada à gestão financeira e patrimonial equivocada que fragilizou o chamado "Império Turco-Otomano" e suas extensões. Qual foi a grande "sacada" do Miranda? Foi estabelecer um vínculo entre gestão ultrapassada, obsoleta em estrutura, processos e métodos e maus resultados de campo. A tese prosperou. Naquele tempo qualquer tese bem assentada prosperaria, o desespero era enorme. Comecei a participar muito depois do INTER 2000. Fui eleito conselheiro apenas em 1996. Não posso me creditar de qualquer parcela de participação por nada de positivo que adveio da trajetória do movimento até ali.
O INTER 2000 conquistou a aliança com o INTERAÇÃO, surgido da base do quadro social, um fenômeno depois repetido por outros movimentos e que ainda vai eleger e guindar muita gente ao CD do INTER. Os dois movimentos juntos conquistaram o poder executivo do clube na eleição de 1999 e iniciaram a revolução na gestão do clube. Um porta-voz do atraso usou a tribuna do CD, certa feita, para atribuir ao "excesso de computadores" no Departamento de Futebol a pobreza dos resultados de campo. Tu duvidas? Pois é a verdade.
Só para lembrar, o coirmão surfava na onda da ISL e a gestão do INTER, capitaneada pelo presidente Jarbas Lima, primeiro, e Fernando Miranda, na sequência, fecharam a porta para várias propostas semelhantes à da ISL. Contrataram a consultoria da FGV e modelaram uma parceria responsável com condições que, por óbvio, nenhum "parceiro" aceitou.
Ainda para lembrar, um grupo português veio propor um negócio em que se implodiria o Beira-Rio e ao lado se ergueria uma "arena" (foi a primeira vez que ouvi este termo para designar uma praça de futebol), mais ou menos nos mesmos moldes do negócio realizado pelo coirmão com a OAS. Miranda recusou.
SEGUE
quinta-feira, 1 de maio de 2014
O DIRIGENTE DO FUTURO E O FUTURO DOS DIRIGENTES NO FUTEBOL I
A gestão da economia do clube explica muita coisa em campo, acreditem.
Os dados sobre a economia da dupla GreNAL, trazidas pelo Prof. Amir Somoggi hoje,01.05.2014, em ZH, me convencem ainda mais de que o que vai separar os clubes de sucesso dos demais num futuro bem próximo, se não pudermos admitir que isto já está acontecendo, não será o montante de receitas que apuram anualmente, mas a ESTRATÉGIA de gestão.
Para fins de análise de desempenho costumo separar as receitas do clubes brasileiros em seis categorias, agrupadas, por sua vez, em dois grupos. É uma divisão arbitrária criada por mim, com base em critérios analíticos que têm por objetivo facilitar minha análise pessoal da performance competitiva, isto é, futebolística (títulos, taças, glórias), e econômica dos clubes. Ela não é inédita e está embasada em meus estudos na área de gestão, de marketing e de pesquisa do consumidor. Trata-se apenas de um instrumento analítico que criei para organizar minhas avaliações.
Grupo I: formado pelas receitas direta e imediatamente vinculadas ao espetáculo, ao jogo, às competições, ao chamado "mercado da bola". Neste grupo coloco as três categorias seguintes:
1. Receitas de direitos de transmissão pagos por empresas e veículos de comunicação (TV, rádio, agências de notícias, portais de informação);
2. Receitas de alienação de direitos econômicos e federativos de jogadores, antigamente chamado de "passe"("mercado da bola" ou "mercado de jogadores");
3. Receitas do espetáculo, do "Dia do Jogo", são aquelas apuradas pela participação do fã no período que antecede o jogo, no momento do jogo e logo após a partida ou o show.
Grupo II: formado por aquelas receitas mais ligadas aos ativos mais duradouros da instituição, do clube, da associação. Neste grupo coloco outras três categorias:
4. Receitas do Quadro Social apuradas pelas mensalidades dos sócios. É importante lembrar que aqui em Porto Alegre os clubes são eminentemente clubes de futebol e não clubes sociais que tem, também, futebol, como acontece em outras capitais do país.
5. Receitas de marketing e exploração da marca, são aquelas decorrentes da paixão dos aficionados pelo esporte do futebol, em geral, e pelo clube, em particular.
6. Receitas de exploração do patrimônio, especialmente do patrimônio imobiliário da associação/clube.
Para cada um destes grupos de receitas acima há estratégias específicas de gestão para a sua maximização. Para cada categoria, dentro dos dois grupos, há também a exigência de estratégias gerenciais/operativas para o aprimoramento do desempenho.
Nos próximos posts comentarei um pouco sobre as estratégias, corretas e equivocadas, do período compreendido entre os anos 2000 e 2010, que levaram o INTER a sair de sua posição periférica, no âmbito do futebol brasileiro, e sobre o futuro da gestão do futebol e do clube após passados estes três anos de um "longo e tenebroso inverno" sem nosso querido estádio.
sábado, 12 de abril de 2014
MEU PRIMEIRO E ÚNICO GRENAL NA ARENA PORTO-ALEGRENSE
Este
não é um blog comercial. Não me preocupo com QUANTOS leitores ou QUANTAS
leitoras acessaram seu conteúdo. É um espaço de conversa entre um ex-dirigente
e algumas pessoas interessadas e curiosas por conhecer os bastidores da gestão
do futebol. Não há e não haverá regularidade de postagem. Quando minha vida
pessoal e profissional permitir, escrevo aqui e aviso pelo twitter @drlcesar.
Combinados?
No
GreNAL do primeiro turno do Campeonato Brasileiro de 2013 fui à Arena
Porto-alegrense pela primeira e única vez. Achei muito bonita a nova arena da
cidade que um dia, contratualmente, será propriedade do coirmão. A Arena é
confortável, espaçosa, clara e tem todos os recursos para sediar bons jogos de
futebol e grandes eventos. Entrei,
acompanhado de outro dirigente, na pista e fui até a beira do gramado para ver
as condições do cujo. Belíssimo gramado. Veio ao meu encontro o Dr. Fábio
Krebs, colega com quem fiz, há vários anos, no começo dos 1990, um curso de
pós-graduação. O Dr. Fábio, sempre muito gentil e educado, nos recebeu e
conversamos animadamente. Não vi, te juro pelo que é mais sagrado, nenhum
dirigente de futebol do coirmão. Depois fiquei sabendo por um repórter que os
dois do futebol ficaram na bronca com a gente, porque não fomos até eles para cumprimenta-los.
Ora, no meu código de conduta, o código do cavalheirismo, da educação e da
civilidade, quem deve tomar a iniciativa de ir até os visitantes, cumprimentar
e recepcionar quem chega é o dono da casa. Se eles são os donos da casa eu não
sei. Agora, que minha condição naquele momento era de visitante, isso era.
segunda-feira, 24 de março de 2014
LEMBRANÇA DE UMA EXPERIÊNCIA MEMORÁVEL
No post anterior eu citei Celso Vaz Correa, que comigo foi diretor de futebol, de 2003 a 2006, quando Vitorio era o VP. Como muitos não o conhecem, pois o Celso é um cara muito discreto, vai uma foto daquela memorável campanha do Japão 2006 em que ele aparece em destaque. Celso é o primeiro à esquerda. Contribuiu muito para o sucesso daquele trabalho. Foi o executor do projeto de criação do que hoje se chama Sub-23. Na época era chamado INTER B. Abaixo, agachado, o Borges da segurança.
domingo, 23 de março de 2014
Por que não estranhei Edinho jogando no coirmão
Há jogadores que jogam no INTER e tu nem consegues
imaginá-lo jogando no rival. A recíproca é rigorosamente verdadeira. Para
facilitar e não escolher ídolos do passado, que nem todos conhecem, apresento o
exemplo atual de D’Alessandro. Não! Nunca teremos o desprazer e o
desapontamento de vê-lo no coirmão, envergando a camisa tricolor. Embora eles,
lá neles, nutram pelo nosso camisa 10 uma idolatria reversa absurdamente
intensa. A fixação deles no D’Ale aparece nos GreNais, onde as críticas dos
dirigentes adversários recaem sobre o ídolo colorado pelo que ele faz e diz,
tanto quanto pelo que ele não faz e não diz.
Há outros jogadores que não tem tamanha identificação, que
vai além dos direitos e obrigações do contrato com o clube, são mais profissionais,
por assim dizer.
Edinho jogou no INTER na época em que eu era diretor de
futebol, com Celso Vaz Correa, assessorando Vitorio na VP de Futebol. Sempre
foi um jogador muito profissional. Joga tudo e trabalha duro dando o seu
melhor, em tempo integral, para o clube com o qual tem contrato. É muito
profissional. Sempre foi. Não estranhei.
segunda-feira, 17 de março de 2014
COMENTÁRIOS SOBRE OS POSTS DO BLOG
OS COMENTÁRIOS SOBRE OS POSTS DO BLOG SÃO MUITO BEM VINDOS E OS TENHO PUBLICADO, MESMO QUE SEJAM DE DISCORDÂNCIA ÀS IDEIAS, OPINIÕES E HISTÓRIAS QUE CONTO AQUI.
***NÃO SERÃO PUBLICADOS COMENTÁRIOS ANÔNIMOS. SEJA CORAJOSO, OU CORAJOSA, E ASSINE SUA MANIFESTAÇÃO***
quarta-feira, 12 de março de 2014
NILMAR E SAVIOLA VII - O FIM DA NOVELA
Peço desculpas pela interrupção da novela. Um trabalho pesado me tirou da sintonia com o blog, mas a história de NILMAR e SAVIOLA teve um final e não vou ficar devendo. Aqui vai.
Não seja tão apressado, leitor. Não me julgue apenas pelo post anterior, sobre a história da tentativa de contratar Saviola, sem ler este post. Julga-me pelo conjunto da obra.
A intenção de trazer Saviola, dado que a negociação com Nilmar apresentava dificuldades cada vez maiores, era um desejo do Luís César torcedor. Todo o dirigente é também um torcedor. Eu como torcedor sou passional ao extremo, sou irresponsável e inconsequente. Eu, na condição de torcedor, posso, estou autorizado a não medir consequências. Quero meu time para cima, martelando o adversário, como já disse, não dando folga nem para os caras respirarem; com posse de bola objetiva, vertical, agressiva. Quero transformar tudo isso em gols, em goleada, em “chocolate”; botar o adversário na “rodinha de bobo”, humilhar os caras, gritar: “Olé! Olé”. Eu como torcedor posso pensar assim. Já na condição de dirigente eu não posso ser só isso. Tenho que ser responsável, consequente, ponderado e prudente. Tenho que subordinar as contratações a um plano. O planejamento do futebol não se restringe a uma temporada. Vai além, é continuidade. No INTER um mandato de uma diretoria dura dois anos. O planejamento também. Não fosse assim não haveria sentido na contratação do Alan Patrick, que pelo que soubemos tinha jogado umas quinze partidas apenas na temporada anterior, na Ucrânia. Ou o Alex, que tinha jogado isso ou menos nas Arábias. Ambos estavam em fim de temporada, tinham tido férias e não tinham feito pré-temporada. Os dois só podem dar resposta neste ano, de 2014, não tinha como desempenharem todo o futebol que sabemos que eles têm em 2013. Tudo porque o futebol é planejado para, no mínimo, um mandato presidencial.
Então o Luís César torcedor pedia ao Luís César dirigente:
- Pô, meu, contata o Saviola! Tem que contratar!
E o Luís César dirigente respondia ao Luís César torcedor:
- Onde ele vai jogar nesse time?
O torcedor respondia:
- Pela direita, formando uma linha de três, atrás do Damião, com o D’Ale e o Forlán.
O dirigente perguntava:
- Tu só podes estar louco! Quem é que marca nesse teu time?
E o torcedor:
- Os dois volantes, os dois zagueiros centrais e os dois zagueiros laterais.
O dirigente:
- Tu tá de brincadeira comigo. Não tens visto os jogos? Não viste as dificuldades que o subsistema defensivo tem apresentado? Nesse teu quarteto de frente apenas o D’Ale e o Damião voltam para marcar. E ainda assim... Tu não podes estar falando sério!
Foi assim que o torcedor Luís César foi convencido pelo dirigente, de que o sonho de ter Saviola no grupo só poderia prosperar se duas preliminares fossem superadas: SE Damião saísse E SE ele, Saviola, viesse para disputar uma das vagas no ataque, do mesmo jeito que veio o Scocco. Javier teria que amargar uma reserva e jogaria quando o treinador precisasse de um cara com suas características. Pontualmente.
Saviola era um bom negócio. Muito bom. Tinha terminado seu contrato com o Málaga, ES. Não tinha vínculo com nenhum clube. Não cobrava nada pelo “aluguel do passe”, como se diz tradicionalmente. Ele não pediu luvas. Vinha só pelo salário e um salário que podíamos pagar. A pedida dele era muito mais ajustada às nossas condições estreitas orçamentárias do que alguns que já estavam aí.
Marcamos de nos encontrar com o agente do jogador no Rio de Janeiro, no próprio hotel da concentração. Não lembro qual era o jogo. Acho que foi o empate de 3x3 com o Botafogo. Diego Queiruga era o nome do agente do Javier Saviola. Deixamos tudo alinhavado, mas ele deixou claro que o jogador era alvo do interesse de um clube europeu que jogaria a UEFA Champions League. E que daria preferência a esse clube. Acabou acertando com o Olympiakos, da Grécia e meu sonho de torcedor acabou. A novela também.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
TINGA
Tinga é um cavalheiro, um cidadão. É um cara alegre e educado. Lamentei quando veio nos pedir para sair, após a conquista da Libertadores de 2006. Lamentei mais ainda que não estivesse conosco no Japão, no fim do ano; que não tivesse tido a oportunidade de estar no pódio do Mundial de Clubes 2006. Ele merecia pelo que fez na Libertadores e pela importância que teve para aquele grupo.
Lembro que ele não viajou ao Paraguai, para o jogo contra o Libertad. Ficou tratando uma lesão em Porto Alegre. Na véspera do jogo o motivador, Evandro Mota, fez uma sessão no cinema do hotel. Passou um filme de uns seis minutos. Era uma entrevista com Tinga. Ele mandava uma mensagem de ânimo, de confiança nas possibilidades do INTER contra o clube paraguaio. Encerrava mandando mensagens individuais a cada jogador que tinha viajado. Tratava a todos por aqueles apelidos com que os jogadores se tratam quando estão sós; aqueles apelidos secretos que eles só usam para chamar uns aos outros quando estão protegidos de olhos e ouvidos profanos. Foi uma festa. Os jogadores não paravam de rir. Divertiram-se muito com a mensagem do querido colega, que não os tinha acompanhado por força maior. Foi muito legal. Alegrou a todos, mesmo não estando lá, e contribuiu, de longe, para mais um sucesso daquela campanha.
O desaforo que lhe fizeram no Peru não tem nome.
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
NILMAR E SAVIOLA VI - A NEGOCIAÇÃO COM SAVIOLA
Javier Saviola foi uma negociação estratégica. Se o
contratássemos, a venda de Damião ficaria prejudicada. Pelo menos era o que eu pensava e era isso que eu queria, manter Damião. Saviola é um atacante de
lado, não seria um substituto autêntico para o Leandro, e é baixo para os padrões do futebol atual, admito, mas é um grande jogador. Eu,
pessoalmente, imaginava, já à época, uma formação que depois Clemer botou em
campo: um 4-2-3-1. Meu time ideal ataca em tempo integral; martela o
adversário; não dá sossego ao seu sistema defensivo; preocupa todo o meio campo
adversário fazendo com que se dediquem mais em defender do que em nos incomodar.
SOU CONTRA ESSA IDEOLOGIA DEFENSIVISTA QUE GRASSA POR AÍ, protagonizada por treinadores
intimidados e temerosos que arriscam pouco, que só se preocupam em defender-se,
mesmo que estejam enfrentando a Associação Atlética Biriri-Bororó. ACREDITO NA
MÁXIMA QUE “A MELHOR DEFESA É O ATAQUE”. Acredito profundamente nisso. Quem
quer ganhar alguma coisa tem que arriscar. A economia ensina que o lucro é a remuneração do risco. Respeito quem pensa diferente, quem é pela segurança, mas eu penso
assim. E a gente tem que ter convicções no futebol. Enquanto o nosso meio cria
e o nosso ataque martela, nossa defesa está protegida.
Estava decidido a me opor à venda de Damião, como me opus
à venda do Fred até o fim. Acreditava que ele, Damião, recuperaria seu futebol no segundo semestre,
como acredito que vai recuperar ainda, porque é um grande jogador e um grande profissional, acima de tudo. Sonhava o time, do meio para frente, com Saviola, na direita, D’Alessandro, no meio, e
Forlán, ou Otávio, na esquerda, formando uma linha de três logo atrás do Leandro Damião. Forlán
ainda era incógnita, não sabia se voltaria a mostrar seu futebol que encantou a
todos na Copa da África do Sul, mas achava, à época, que deveria ser testado com outra parceria. Forlán é lento, mas dá velocidade na bola, antecipa a jogada. Otávio é talento e muita vivacidade, mas também é baixo. Teríamos duas opções para o lado esquerdo. Testaríamos para ver o que funcionaria melhor.
Minha proposta não foi bem aceita, foi
considerada por um dos convivas como de um “time faceirinho”. Ali eu comprovei que estava
na parceria errada, mas era tarde.
Como não fui impedido, continuei tocando o negócio do
Saviola.
Continua
no próximo post
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
NILMAR E SAVIOLA V - NEGOCIAÇÃO DO NILMAR
Como muitas negociações de jogadores param pelo caminho, muitas mesmo, uma tática que se tem usado é abrir várias negociações e conduzi-las em paralelo. Os agentes dos jogadores fazem o mesmo, disparam negociações com mais de um clube e escolhem no final o destino do jogador. É a prática.
Nilmar era o sonho de uma parcela expressiva da torcida colorada e de alguns dirigentes também. Ele estava em férias no Brasil. Ficou um tempo no interior do Paraná descansando e passou alguns dias em POA. Sua esposa estava grávida e ficaria por aqui para ter a criança junto da família, não retornaria com ele para as Arábias. Um dirigente foi ao Paraná falar com ele, enquanto por aqui o interesse do INTER já tinha sido manifestado ao seu procurador. Queríamos um sinal do agente e do jogador que nos permitisse procurar o escritório de advogados que representa o Al-Rayyan, do Qatar, no Brasil. O jogador disse que estava bem lá e que sua disposição era de cumprir seu contrato com o clube árabe. Para vir, só se fosse liberado pelo clube que detinha seu vínculo. Não nos proibiu de fazer ofertas. O INTER apresentou uma proposta de empréstimo: REJEITADA. Apresentou uma proposta de compra: REJEITADA. Aumentou a oferta de forma MUITO EXPRESSIVA. O Fabiano Baldasso levantou suspeitas, no ar, sobre a veracidade das propostas do INTER. Eu ouvi. Intercedi junto ao presidente para que apresentasse os documentos das propostas ao jornalista. O presidente aceitou, desde que não ficassem visíveis os valores. Comuniquei ao Baldasso que ele podia ir ao gabinete do Giovanni ver as propostas. Que eu saiba ele nunca foi.
Eu tinha a certeza de que o Sheik aceitaria essa última proposta. Tudo ficaria certo. Nilmar voltaria ao INTER; ficaria perto da esposa no final da gestação e até poderia assistir ao parto.
A resposta recebida foi:
- POR FAVOR NÃO MANDEM MAIS PROPOSTAS. O SHEIK ADMITE VENDER O TIME, MAS NÃO ADMITE VENDER O NILMAR.
Alguns dirigentes mais apegados às tradições entendem que, se numa situação dessas o jogador fizer uma "ceninha", um muxoxo, der uma demonstração de contrariedade por não poder voltar, os dirigentes vão se sensibilizar e liberá-lo. Não é meu caso. Sou pelo profissionalismo no futebol. Nilmar também. Deixou claro que não exerceria qualquer pressão indevida sobre os dirigentes do Al-Rayyan. Se ele tinha contrato com o clube e se o clube queria que ele o cumprisse, ele o cumpriria. Fiquei frustrado pelo fim do negócio, mas aplaudi a atitude do jogador. Se o contrato dele fosse com o INTER, naquele momento, eu gostaria que ele tivesse tido a mesma atitude para com o nosso clube.
OS NEGÓCIOS DE SAVIOLA E SCOCCO VEM NA SEQUÊNCIA
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
NILMAR E SAVIOLA IV - AS NEGOCIAÇÕES COMEÇAM
Chegamos então encaminhamento das negociações, o que deve começar a aplacar a ansiedade de muitos leitores. Só para lembrar o contexto:
- A janela para contratar jogadores de fora estava se fechando em final de julho.
- A janela para vendas duraria ainda mais um mês, até o final de agosto.
- A chance de Damião sair nessa janela de agosto era muito grande.
- Não havia recursos para tudo o que se entendia que a equipe precisava em termos de reforços para a continuidade da temporada.
- Direção e Comissão Técnica chegaram ao entendimento compartilhado que um meia e um atacante eram as prioridades.
Antes de entrar em negociações, propriamente ditas, há uma fase inicial de sondagens. Vários nomes foram aventados e contatos foram feitos para saber sobre a situação dos jogadores, sobre a possibilidade de virem, sobre eventual interesse em vir, sobre a satisfação deles nos clubes atuais e por aí vai.
A ideia era que entre os dois jogadores que traríamos um fosse estrangeiro e o outro brasileiro. Só vou citar alguns dos que foram sondados. Entre os que já tinham passado pelo INTER buscamos informações sobre a situação de Nilmar, Giuliano, Tayson e Alex. Entre os brasileiros que estavam fora: Júlio Baptista e Robinho. Entre os estrangeiros Saviola, Scocco, Lucho González e Lisandro López, além daquele que não vou citar. Alguns foram imediatamente descartados em função das informações colhidas. Pessoalmente falei com o representante do Giuliano, que me informou que ele estava bem na Ucrânia; que deveria continuar lá, que para trazê-lo somente recomprando o jogador e que nos preparássemos para investir muito alto, se tivéssemos interesse em continuar a conversa. Com pesar, descartei a continuidade do negócio.
Também estive encarregado da negociação com Saviola. E tinha um forte aliado nessa diligência.
Alex esteve em Porto Alegre com a família. Veio providenciar uma tramitação de documentos no Consulado Italiano. Hospedou-se num hotel da cidade. O Dr. Eduardo Hausen, assessor do futebol profissional do INTER descobriu. Falou com ele por telefone e, depois, foi recebido para um café da manhã no hotel onde o jogador estava.
CONTINUA NO PRÓXIMO POST
SEGUE MAIS UMA FOTO DAS MINHAS
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
NILMAR E SAVIOLA III - NECESSIDADE DE PRIORIZAR
Embora a zaga carecesse de atenção, a gente reconhecia isso, a substituição de L. Damião, virtualmente negociado, segundo diziam, e a contratação de um meia, que dividisse com D’Ale as tarefas do meio-campo, eram prioridades. Àquela altura Ernando já tinha um pré-contrato com o INTER, ou estava por assiná-lo. Não lembro bem. Ele poderia deixar o Goiás no meio do ano mediante uma indenização ao clube pelos meses de contrato não cumpridos. Bastava que se fizesse uma negociação entre as diretorias e se chegasse a um acordo sobre valores. Historicamente nunca foi fácil negociar com as diretorias do Goiás, mas penso que se tivéssemos insistido, talvez ele tivesse vindo. Era uma questão de acertar. Uma conversa com a Comissão Técnica sobre as prioridades de contratação e o montante de recursos necessários a uma eventual indenização ao clube de origem sepultaram a antecipação da vinda de Ernando. Não sei se teria sido solução. Mas era um reforço para a zaga.
Ficou assim, não havendo recursos para contratar um time inteiro tínhamos que priorizar. Só para lembrar, 2013 foi o ano sem o Beira-Rio. O caixa do clube estava bastante combalido. Havia uma quebra grande das receitas, que se somava a aumentos de custos com logística e com locação de estádios para o INTER mandar seus jogos em "casa". Mas isso não fazia sentido para o senso comum. Afinal o clube tinha negociado Moledo e Fred, não tinha? Algumas pessoas pensam que quando se vende um jogador, o jogador sai por uma porta e o dinheiro entra imediatamente no caixa. Não é assim. Todos os pagamentos, de qualquer tipo de negócio de jogadores, são parcelados em quatro, cinco, seis vezes. E as parcelas desse tipo de negócio não são mensais, como na economia doméstica. São geralmente anuais ou semestrais. Poucas vezes se consegue que a periodicidade dos pagamentos seja inferior a seis meses. A economia ensina que as necessidades são ilimitadas e os recursos são sempre limitados. Não havendo recursos para tudo o que se precisava chegou-se à conclusão que as prioridades seriam meias e atacantes. E agora é que vamos chegar mesmo nos negócios de Nilmar e Saviola. Mas isso será no próximo post.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
NILMAR E SAVIOLA II - A CRISE
A situação era essa. O que se ouvia era que a diretoria do
INTER estava produzindo um desmonte no time. Vendia e não contratava. A rapidez
para vender se contrapunha à demora em contratar. Não contente com as vendas de
Fred e Moledo, dizia-se, a diretoria venderia Damião na primeira oferta que
recebesse. A tensão ia aumentando. A emoção ia virando comoção. O prazo de
fechamento da “janela” ia se aproximando. A ansiedade coletiva ia crescendo. E
a gente trabalhando, sem poder dizer nada.
O consenso generalizado indicava que o INTER precisava de um
meia, para dividir com D’Alessandro criação e articulação, e um atacante para
substituir Damião que, entendiam todos, seria vendido. Os fatos indicavam que
nem um, o meia, nem outro, o atacante, viriam do Brasil. Não havia jogadores
desse porte disponíveis para negócio no país. A lógica indicava que teriam que
vir de fora. Lá fora, no meio do ano, as equipes ou estavam envolvidas em
finais de campeonatos, ou os jogadores estavam iniciando férias. Tudo ficava mais
difícil. Dois jogadores que estiveram na pauta e estavam sendo negociados estavam
envolvidos nas fases decisivas da Libertadores
da América. Um deles era I.Scocco. O outro, que não será mencionado em respeito
a ele mesmo, desistiu na última hora. Seria uma grande contratação.
O caldeirão borbulhava. A gente corria, trabalhava, ligava, viajava, negociava. Um negócio ia evoluindo rapidamente e aí parava. Surgia um entrave.
O representante do jogador não respondia mais aos telefonemas, mensagens,
emails. Silêncio. Um dia, dois dias, três dias. Nada. Outro negócio, que se
julgava encerrado, voltava a se abrir e começava tudo de novo. E o tempo passando. E
o fechamento da “janela” se aproximando. Uma negociação, que vazara e estava
bem avançada, esbarrara numa exigência absurda: um milhão de reais líquidos por
mês para o jogador, durante dois anos, tudo na carteira de trabalho, sob o regime da CLT. O
INTER arcaria com todos os demais custos de impostos, taxas, previdência e o
que mais viesse. A conta chegaria a mais de cinquenta milhões nos dois anos.
Era a crise! O desastre! Lembrei-me da história de um
cirurgião norte-americano que, no final do século XIX, estava operando uma
paciente em seu consultório, numa pequena cidade do meio-oeste, enquanto a turba,
do lado de fora, montava uma sólida estrutura de madeira para enforcá-lo se a
cirurgia não fosse bem sucedida.
CONTINUA NO
PRÓXIMO POST
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
NILMAR E SAVIOLA I - O COMEÇO DA HISTÓRIA
Acho engraçado quando alguém, que nunca dirigiu um clube de futebol, vocifera aos quatro ventos dizendo que “não há planejamento no futebol do clube”. A Copa do Mundo está aí para provar que planejamento é algo que não prospera em nosso país, com a saudável exceção de algumas ilhas de excelência. No âmbito do futebol o calendário muda a toda hora. Horários e dias de jogos nunca são certos. As regras são excessivamente flexíveis e deixam generosos espaços para interpretação. Existem verdadeiras e potentes barreiras ao avanço do planejamento, como atividade cotidiana, integrada às rotinas do futebol. Só que entre todas essas barreiras à consolidação do planejamento algumas sobressaem. Existe, no entanto, um problema que desafia a capacidade de planejamento, de raciocínio e decisão dos dirigentes de clubes e, mais especificamente, os do futebol, são as chamadas “janelas”. Funciona mais ou menos como o “Dilema dos Prisioneiros”, tratado pela teoria econômica.
No meio do ano a ”janela” para ENTRADA de jogadores vindos do exterior para os clubes brasileiros fecha no final de julho. Contratou, contratou; não contratou, não contrata mais. Repatriou, repatriou; não repatriou, não repatria mais. É assim. Só que a “janela” para a SAÍDA de jogadores dos clubes brasileiros para o exterior fecha um mês depois do fechamento da “janela” de ENTRADA, ou seja, em final de agosto. Havia, em 2013, a ameaça constante da saída do L. Damião. Era só nisso que se falava. A primeira pergunta que um repórter me fez sobre a possibilidade dele sair do INTER foi logo depois do jogo contra o São José, pelo Gauchão ainda, no Passo D’Areia. Para o mundo esportivo era certa a saída de Damião. Ninguém, ou quase ninguém cogitava a permanência do jogador. Da maneira como era tratada, a saída do Damião era interpretada como o golpe de misericórdia que seria desferido pela direção contra a torcida. Era o ápice do que foi chamado de “desmonte” do time ao longo da temporada, que teria iniciado com as vendas de R. Moledo e Fred.
CONTINUA NO PRÓXIMO POST
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
OS RESULTADOS DO FUTEBOL E OS VIZINHOS
Sei que posso estar, pelo menos até agora, frustrando
algumas expectativas, que esperavam ver neste espaço uma lavagem de roupa
diária, um verdadeiro BBB retrospectivo do futebol colorado de 2013. Não. Essa
não é a ideia. Pelo menos no momento. Mas não me provoquem.
Que eu vou contar alguns episódios, ou partes deles, que
não vieram a público, isso eu vou. Mas pretendo preservar, em primeiro lugar e
acima de tudo, a imagem do INTER. Quando a gente passa pelo que se passou no final
do ano passado, tendo a responsabilidade institucional pelo trabalho e não
vendo os resultados esperados aparecerem, a cobrança é muito forte. Ela vem de
todos os pontos cardeais. Vem do torcedor, vem do associado, vem dos dirigentes
de outras áreas do clube não diretamente vinculadas ao futebol, vem dos
conselheiros, vem dos profissionais de comunicação. Ela vem dos nossos
parentes, colegas e amigos. E tem que vir mesmo.
Poucas pessoas me pouparam de suas críticas e reclamações
no final do ano passado. Entre essas não posso esquecer-me de mencionar os meus
vizinhos de andar. Moro num prédio que tem quatro apartamentos por andar. No
meu andar TODOS são colorados. Meus vizinhos me dedicaram, à medida que os
resultados foram ficando feios, um silêncio obsequioso que eu até não merecia,
mas que foi para mim um alívio. Eles se reuniam em casa de um deles para ver os
jogos. Mas quando os encontrava no corredor ou no elevador eles conversavam
sobre coisas do condomínio; sobre como estava ficando bonito o Beira-Rio, ou
outros assuntos agradáveis. A eles minha eterna gratidão.
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
A SEGUNDA PÁGINA E A RÁDIO ITAÍ
Quando eu era piá havia uma emissora de rádio, de grande
audiência, chamada Rádio Itaí. Tocava música e tinha programas de
interatividade, já à época. Estou falando do final dos 1960 e começo dos 1970. Tinha
um programa que eu gostava muito de ouvir. Chamava-se “Não diga não à Rádio
Itaí”. Nesse programa o apresentador recebia uma ligação de um, ou uma, ouvinte
e conversava com ele, ou ela, durante um minuto. Nesse intervalo não podia ser
pronunciada a palavra “não” pelo/pela ouvinte. O apresentador podia. Caso o/a
ouvinte conseguisse passar a barreira dos 60 segundos “driblando” as perguntas
do apresentador sem pronunciar um “não” sequer, ganhava um prêmio. Podia
responder às perguntas com outras formas de negação. Só não podia dizer “não”.
Quando, no final do ano de 2013, o time do INTER começou a
ter dificuldades reais e objetivas de acumular pontos e fomos caindo vertiginosamente
na tabela de classificação do Brasileirão, os repórteres só me perguntavam
sobre isso. Era “Z-4” para cá, “Zona da Degola” para lá, “descenso” aqui, “rebaixamento”
ali e não tinha o que freasse o ímpeto pessimista e agourento das perguntas que
me dirigiam. Foi então que me propus a jogar um jogo. Assim como era proibido
dizer “não” no programa da Rádio Itaí, eu driblaria todas as perguntas que me
fossem endereçadas e que remetessem ao “rebaixamento”, à “degola”, ao “descenso”,
ou ao “Z-4” sem jamais mencionar uma dessas expressões. Isso é tabu para nós.
Nessas coisas não se fala. Foi aí que surgiu a “segunda página”. Uma alusão a
uma posição ruim, desconfortável, indigesta, intolerável para os colorados, que
me envergonhava muito como dirigente, mas que não chegava a ser o desastre daqueles
termos que eu me negava a pronunciar.
sábado, 25 de janeiro de 2014
CRITÉRIOS PARA PUBLICAÇÃO DE COMENTÁRIOS
Prezadas e prezados
A sabedoria popular ensina que "o que é combinado não fica caro para ninguém". Comentários dos leitores são muito bem vindos no "Primeira Página". Podem concordar ou discordar do conteúdo dos posts. Eles todos, concordando ou discordando, serão moderados de acordo com alguns critérios abaixo enunciados para a boa convivência virtual e para estimular a discussão em alto nível. Seguem os critérios adotados para a publicação de comentários pertinentes à postagens neste blog:
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Boa tarde a todas e a todos.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
O CONVITE I
Quando fui convidado a conversar com Giovanni, no final de
2012, sobre os planos para o futebol para 2013, entendia que estava ali uma
oportunidade de reconciliar o presidente com o ex-presidente Vitório Piffero.
Disse ao Giovanni, na sala que ocupa na empresa dele, onde nos reunimos, que ele
deveria convidar Vitório para assumir o futebol do INTER. O ano de 2012 tinha
sido ruim e um perfil de dirigente experiente era a maior das exigências
naquele momento. E quem mais experiente que Vitório, uma vez que Fernando
Carvalho tinha se declarado impedido? Não foi possível obter a reconciliação.
As cicatrizes das feridas da eleição de 2010 ainda estavam muito sensíveis. As
da polêmica sobre o modelo de financiamento da reforma do Beira-Rio também.
Quando se tem o nome cogitado para assumir o Departamento
de Futebol penso que a autocrítica merece um espaço generoso na análise da
situação. A reflexão sobre a real possibilidade de contribuir com algo tão
grande, tão importante, tão maior do que todos nós, quanto o INTER, deve
prevalecer sobre a ambição pessoal e a inevitável vaidade. Por isso entendi,
naquele momento, que uma tentativa de trazer alguém mais experiente do que eu
era uma obrigação. Era melhor para o clube. Não foi possível, mas pelo menos foi
cogitado e foi tentado.
Conto hoje mais de cinco anos na função de dirigente de
futebol profissional. Sou um privilegiado. Poucos caras tem este capital em
nosso meio. A pior experiência foi aquela dos poucos meses em que estive como
diretor de futebol em 2000. Dunga era jogador ainda. A melhor, evidentemente, foi
aquela do período de 2003 a 2006, coroada que foi com a primeira Libertadores o
Mundial de Clubes FIFA. O ano de 2013 fica numa posição intermediária. Tivemos
um bom e promissor primeiro semestre e um segundo semestre que todos queremos
esquecer. E quanto mais experiência se acumula nessa função, mais claro fica
que se tem muito ainda a aprender. Pelo menos para quem tem autocrítica.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
VAIDADE
III
Mas se afirmo, como fiz, que a vaidade está em toda a
parte no futebol e eu era parte daquele ambiente, por óbvio, sou obrigado a
admitir minha própria vaidade. É mais
uma lição que tenho que creditar a Hannah Arendt.
Sofro do mal da vaidade intelectual, admito.
Se considerarmos que tenho 56 anos e que entrei na escola
aos cinco anos, dos 51 anos transcorridos desde então passei 39 anos estudando.
Isso, talvez, explique, pelo menos em parte, o fato de padecer de certo orgulho
excessivo dos títulos acadêmicos conquistados. Não há como evitar, mas é possível controlar
isso buscando doses maciças de humildade onde elas se encontram: nos meus
erros, nos meus fracassos, nos tombos que já levei.
Devo advertir, no entanto, a vaidade intelectual não é
exclusividade dos acadêmicos. Não é necessário estudar tanto para ser
intelectualmente vaidoso, É só achar que se “sabe tudo de futebol”, que se tem
solução para todos os problemas do time, do clube. É só ser daqueles que entendem
e afirmam que “esses dirigentes não sabem nada”, “esses caras não são do ramo”;
“se fosse eu no lugar deles, eu faria o seguinte...”.
A vaidade intelectual nos leva, no mínimo, a pensar que
faríamos mais e melhor do que fizeram os que nos antecederam. E eu achei que
podia. Não fiz tudo o que achei que devia ser feito, mas fiz o que era possível
naquela complicada engenharia de negociações com os demais dirigentes. Mesmo
assim, acreditei que 2013 seria um ano melhor do que os anos anteriores, ainda
que não tivéssemos o nosso amado estádio Beira-Rio. Os resultados não vieram. Ficou
provado que estávamos errados. Eu estava errado, como estavam errados os demais
dirigentes. Ninguém deve pagar essa conta sozinho. Acertamos e erramos
coletivamente. Quanto a mim, fui vítima da minha própria vaidade intelectual.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
VAIDADE II
Sim, a vaidade está em toda a parte no ambiente do futebol, mas há vaidades e vaidades. Há vaidades que se erguem sobre bases sólidas; sobre talentos e competências especiais que as justificam. Pelé teria direito de ser vaidoso. Zico teria razões para ser vaidoso. Falcão teria motivos para ser vaidoso. Romário teria justificativa para ser vaidoso. Não são, mas poderiam ser. Outros tantos personagens do futebol poderiam ser vaidosos, pois há alicerces, há fundamentos para sustentar a vaidade. Isso não é problema. Faz parte do “pacote”.O problema está naqueles dotados de uma vaidade vazia, oca, sem fundamentos, sem razões; aqueles desprovidos de talentos ou competências que possam tornar compreensível e aceitável sua imensa vaidade. Assim, descobri que há poucas fontes e origens de vaidade, todas bem conhecidas, e muitos mecanismos de difusão dela, muitos deles desconhecidos. No ambiente do futebol, vaidade “é mato”, como se diz lá fora, e gerenciar vaidades é uma das competências exigidas de quem quer dirigir futebol.
No próximo post abordo, por um imperativo de autocrítica, a minha própria vaidade: a vaidade intelectual.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
VAIDADE I
Uma coisa que sempre me inspirou curiosidade foi a virtual ausência de mulheres entre os nomes mais reconhecidos da filosofia ocidental. Simone de Beauvoir e Hannah Arendt são as duas únicas figuras que a memória me alcança quando penso em filósofas. O existencialismo de Simone nunca me seduziu. A filosofia política de Hannah sim. Entre suas obras é “A condição humana” a que mais me impressiona. Hannah Arendt fala com propriedade sobre as esferas pública e privada da vida das pessoas e, numa de suas mais geniais conclusões, a partir da leitura de Adam Smith, assenta que:
“... a admiração pública e a recompensa monetária têm a mesma natureza e podem substituir uma à outra. A admiração pública é também algo a ser usado e consumido; e o status, como diríamos hoje, satisfaz uma necessidade como o alimento satisfaz outra: a admiração pública é consumida pela vaidade individual da mesma forma como o alimento é consumido pela fome.” p.66
Hannah ensina uma lição importante, mas dura, difícil de admitir para todos nós. Não é fácil ser colocado frente a um espelho e ver que não são apenas os sentimentos altruístas e o amor à causa que nos movem e motivam a assumir responsabilidades públicas.
O futebol é vaidade. Doses cavalares, superlativas, estratosféricas de vaidade. A vaidade, no ambiente do futebol, está em toda a parte: nos jogadores, nas comissões técnicas, nos dirigentes de futebol, nos dirigentes de outras áreas do clube, na imprensa esportiva e por aí vai.
(SEGUE)
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
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