segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O DILEMA DO DIRIGENTE


RELACIONAMENTO COM O ÍDOLO E COM AQUELES POR QUEM A TORCIDA NÃO TEM ADMIRAÇÃO

Um dos principais dilemas do dirigente está no relacionamento com o jogador que atinge o status de ídolo da torcida do clube. O torcedor que idolatra um jogador o vê com os olhos da idealização. O ídolo, aos olhos do fã, é perfeito. O cara, na visão do aficionado, “joga muito”, adora o clube, é fiel e leal à instituição, respeita as autoridades e hierarquias. Ele só aceita negócios que atendem também aos interesses do clube; nunca trai acordos. O ídolo não tem mau-hálito, não vomita, não tem diarreia nem febre; não tem defeitos. É bom caráter e “bom de vestiário”. Conquistou tudo com o talento que Deus lhe deu, mas também com muito trabalho, muita disciplina, sendo ético e leal. Se atingiu o estrelato, acredita o fã, foi por seus méritos, não por benesses de quem quer que seja. O ídolo ama o clube e sua torcida.

O dirigente vê outro cara. Vê o ser humano. Testemunha seus momentos de fraqueza, de ansiedade, de medo. Presencia suas manifestações de egoísmo, de vaidade, de “estrelismo”, de “marra”, de “máscara”. Conhece suas virtudes, mas conhece seus vícios, seus desvios de conduta, suas imperfeições humanas. Conhece, mas não pode, sob nenhuma hipótese, trazer a público nada disso. O ídolo é intocável. E tem que ser assim.

Na outra ponta, o dirigente conhece os dramas vivenciados pelos jogadores que, como declaram alguns torcedores mais exaltados e taxativos, “não podem vestir a camisa do clube”. Alguns são sujeitos honestos, corretos, trabalhadores, dedicados à família. Muitas vezes são caras que fizeram sacrifícios pessoais imensos, desde tenra idade, para chegar ao grande clube. Apartaram-se cedo de suas famílias; viveram em alojamentos e em condições de higiene e alimentação inimagináveis nos tempos atuais, onde a vigilância sanitária é exigente e temos os Conselhos Tutelares da Infância e Juventude, também muito atentos. Hoje as coisas mudaram muito. Melhoraram bastante, mas uma criança viver apartada da família em busca de um sonho, por melhores que sejam as condições oferecidas por clubes com boa estrutura, é sempre um drama pessoal e familiar. E para estes, que não caem nas graças da maioria da torcida, não há perdão. São os responsáveis pelas derrotas, pelas desclassificações.

O dirigente tem que viver com isto, com estes dilemas discretos: o ídolo perfeito e o “perna-de-pau”, que não tem nada de bom. É assim.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

"PRIMEIRA PÁGINA": DISTRAÇÃO

"PRIMEIRA PÁGINA": DISTRAÇÃO:       Algumas lições aprendi nestes 25 anos de carreira na gestão de serviços de saúde. Uma delas, talvez a mais importante, é que as chanc...

DISTRAÇÃO

     Algumas lições aprendi nestes 25 anos de carreira na gestão de serviços de saúde. Uma delas, talvez a mais importante, é que as chances de sucesso de um projeto aumentam muito se aplicarmos os princípios da SIMPLICIDADE e do FOCO. A simplicidade é simples assim: fazer tudo da forma mais simples possível, desde que garanta o resultado. Simples. Simples mesmo, sem complicar. O foco é manter em perspectiva apenas aquelas variáveis, aqueles fatos e dados DIRETAMENTE relacionados aos objetivos que se quer atingir. Qualquer outro vai, sem nenhuma dúvida, desviar nossa atenção, ou seja, vai nos DISTRAIR. Afrontar estes dois princípios de ação e gerenciamento é conspirar contra o sucesso do projeto, do empreendimento, da gestão.
     Na última semana abusei da paciência dos meus colegas, das minhas colegas, de Conselho Deliberativo (CD) do INTER para dizer exatamente isto. As coisas estão acontecendo de uma forma desordenada, incompreensível, quase opostas à lógica na gestão do clube, em especial do futebol, e o Conselho está DISTRAÍDO, discutindo a saída do VP Jurídico, debatendo manifestações preliminares de interesse em exploração do Gigantinho e da área sul do Complexo Beira-Rio, polemizando sobre quais personalidades coloradas vamos homenagear como nomes das ruas que cercam nosso estádio, propondo novas categorias de sócios, entre outros assuntos. Para ser justo, antes de mim, e na mesma linha, manifestou-se a conselheira Janice Cardoso. Além de todos estes temas, todos relevantes, estamos imersos no processo de reforma do estatuto do clube e do regimento interno do Conselho Deliberativo. Tivemos eleições para a mesa diretora do CD. Tivemos criação e nomeação de comissões permanentes do Conselho. Tivemos apresentações da situação econômico-financeira do INTER. Discutimos o Profut, a proposta da diretoria de contrair um empréstimo bancário que compromete as contas do clube por 38 meses.

     O Conselho está, sem nenhuma dúvida, trabalhando muito. Os assuntos são muito relevantes, mas estão DISTRAINDO o CD. Enquanto isto a diretoria vai erodindo a incipiente estrutura profissional que o clube tinha, nomeando apoiadores políticos para comandar áreas antes gerenciadas por profissionais do ramo; CONTRATANDO JOGADORES DE ALTÍSSIMO RISCO DE FRACASSO POR REMUNERAÇÃO ABSURDAMENTE ELEVADA E PRAZOS INCOMPREENSIVELMENTE ELÁSTICOS E CRIANDO “FATOS NOVOS” QUE REDUNDARAM NO MAIOR VEXAME QUE EU, COMO COLORADO, JAMAIS IMAGINEI VIVER. DISTRAÇÃO, MUITA DISTRAÇÃO.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno e Adriano Imperador: futebol x marketing

     Nada tenho contra fazer bom marketing num clube de futebol. O INTER tem longa experiência em marketing profissional. Atualmente nem tão profissional assim. Mas executivo de marketing de clube de futebol TEM QUE SER DE FUTEBOL. Não pode ficar querendo sortear ovelhas no intervalo do jogo. Agronegócio é uma coisa, futebol é outra.
     Mas mesmo que sejam de futebol, profissionais de marketing tem que ser, antes, PROFISSIONAIS DE MARKETING. E profissionais de marketing trabalham com pesquisa, não com intuição, do tipo: 
- Bah! Tive uma grande sacada!
     Se for assim, começou mal. Marketing de futebol, embora pareça óbvio, é a interseção das atividades de marketing com a experiência com futebol. Ronaldinho no Fluminense. O que me dizem? Sua contratação pode ser qualificada como resultado de boas práticas de marketing iluminadas pela experiência com futebol? Qual sua opinião? Se eu pudesse imaginar o momento da tomada de decisão de quem o contratou, sobrepondo a lógica do marketing intuitivo à do futebol, eu apostaria que, em algum momento, alguém disse para os circunstantes: 
- Tive uma grande sacada!
   Há alguns anos o Corinthians contratou o "Fenômeno". A experiência foi melhor, admito. Ronaldo não comprometeu, ao contrário, esforçou-se. Não foi patético. Fez alguns gols muito bonitos. Coisa do gênio que ele foi como atacante agudo, central, finalizador. Mas, da mesma maneira, foi uma intrusão do marketing no futebol. Alguém teve uma grande sacada no Corinthians.
     Adriano Imperador foi cogitado para o INTER. Teve-se que deslocar um médico e um fisiologista para avaliá-lo e comprovar o que se supunha: não tinha como dar certo. Naquele caso, no entanto, o marketing do clube não teve culpa. A confusão foi provocada por um agente de negócios de jogadores, que cercou todos os pontos frágeis da estrutura do futebol colorado. Só os pontos sensíveis. Muito preciso o movimento do cara.
     É por isso que afirmo e reafirmo: dirigente não deve ser "boleiro", deve ser dirigente. E profissional de marketing, em clube de futebol, tem que ser profissional. Só isso.

    
     
     

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Piffero e Bolzan estão desarticulando a estrutura do futebol

     Sabe-se lá por que razão, mas o fato é que nem INTER, nem GRÊMIO têm hoje um Vice-Presidente dedicado ao futebol. Eles têm vices eleitos, vices de administração, vices de finanças, de marketing, mas não têm um Vice de Futebol. É como se um jornal não tivesse um diretor de redação; como se um hospital não tivesse um diretor médico; como se uma construtora não tivesse um diretor de engenharia.

         VOU DEFENDER AQUI A IDEIA DE QUE ESTE FATO SÓ DEMONSTRA QUE O QUE NÃO HÁ MESMO É ESTRATÉGIA 

     O economista e acadêmico norte-americano, Prof. Neil W. Chamberlain escreveu, certa feita, que a estrutura organizacional é a primeira forma de implementação da estratégia. Ou seja, o negócio principal, o core business, tem que ter posição destacada seja no organograma, seja em que forma for de representação da estrutura organizacional. Quando, num CLUBE DE FUTEBOL, se prescinde de um dirigente dedicado ao futebol, EM IGUAL NÍVEL HIERÁRQUICO dos demais dirigentes de administração, finanças, marketing, jurídico, etc., ISTO DIZ MUITA COISA. É uma daquelas OMISSÕES ELOQUENTES; um hiato que significa mais do que apenas isso. Trata-se de uma demonstração inequívoca da carência de estratégia. Um VP de Futebol é um anteparo importante para a posição do presidente, que pode aparecer como uma instância de recurso, na eventualidade disto ser necessário. A hiperexposição do presidente tira-lhe a possibilidade de atuar como um mediador de crises  e, acreditem, crises num "vestiário" é o que não falta. O VP deve fazer, se for leal ao presidente, o papel do "tira malvado", enquanto o presidente posa de diplomata, conciliador, estadista.
     Piffero e Bolzan estão equivocados ao centralizar demasiadamente o poder; em não contar com um VP de Futebol. Piffero, como já foi dirigente de futebol, e dos bons, não deve estar fazendo isto por vaidade. Pode ser por falta de confiança nos que o cercam. Pode ser por outro motivo, não sei. Mas erra ao não definir claramente, ao não conceder a algum de seus acólitos a investidura na responsabilidade do cargo. Os que o acompanham no futebol me parecem, salvo melhor juízo, acomodados, confortáveis numa posição caudatária. Se funcionar bem, eles estão lá. Se der errado, a culpa não foi deles.
     Bolzan eu não conheço. Só sei, pelas informações que tenho e que são de boas fontes, que é bom gestor. É corajoso. Não joga para a torcida. Faz aquilo que veio para fazer: garantir a sobrevivência e a perenidade do Grêmio. Mas erra também, ao centralizar as coisas do futebol. Deve estar ávido para deleitar-se com a possibilidade de conhecer por dentro essa máquina, que é um departamento de futebol. Esta tentação se abate sobre todos quantos têm a oportunidade de transitar "por trás da cortina". É normal. Ainda mais sendo o presidente. Mas é um equívoco, que pode ricochetear e feri-lo mortalmente.

domingo, 29 de março de 2015

MANIFESTO DA CHAPA 2 PARA MESA DIRETORA DO CONSELHO DELIBERATIVO E CONSELHO FISCAL 2015

PELA VALORIZAÇÃO DOS CONSELHOS DO INTER

Vivemos um momento de transição: profissionalização, fair play financeiro e maior participação dos associados na vida dos clubes são temas relevantes a serem debatidos dentro do nosso Sport Club Internacional. Nesse contexto, o Conselho Deliberativo é imprescindível. Ali estão os associados do Clube. É nele, na representação legítima do associado, que as questões estratégicas são decididas. A democracia colorada fez e pode fazer a diferença.

O Conselho Deliberativo perdeu a capacidade de discutir e de decidir, as “decisões” chegam prontas ao Conselho! Nos transformamos em um órgão homologatório. Na recente reforma estatutária, o debate entre os mais de 300 conselheiros foi substituído por uma discussão em uma pequena comissão. Ao fim e ao cabo, cerca de 1700 associados, em um universo de quase 60 mil aptos a votar, alteraram nosso Estatuto. E tudo ocorreu com a concordância de um Conselho que perdeu a capacidade de protagonizar os destinos do Clube.

Insatisfeitos com esse quadro e reunidos pela valorização de nossas instâncias democráticas, nossos Conselhos Deliberativo e Fiscal, diversos Conselheiros resolveram formar uma chapa alternativa para concorrer nas eleições do próximo dia 30 de março. Mais do que nomes, apresentamos propostas e projetos para o Clube. Oferecemos uma alternativa aos Conselheiros e aos associados do Clube. Buscamos um ambiente positivo de diálogo e os nossos compromissos são com a democracia colorada:

INDEPENDÊNCIA DOS CONSELHOS DELIBERATIVO E FISCAL
Garantir que a Mesa Diretiva atue com absoluta autonomia em relação à Diretoria do Clube e que o Conselho Fiscal cumpra seu papel fiscalizador e assegure a transparência da Gestão.

REFORMA LEGAL DO ESTATUTO
Observar estritamente as disposições estatutárias, inclusive e especialmente para a reforma do Estatuto, atentando permanentemente para a LEGALIDADE dos atos do Clube.
Garantir a efetiva participação do plenário do Conselho em TODAS as deliberações, respeitando as minorias e a pluralidade existente no Conselho e acatando democraticamente as decisões da maioria.

DISCUSSÃO DA PROFISSIONALIZAÇÃO DO CLUBE
Propiciar espaços para o debate desta importante temática ao futuro do Clube. Não há fórmula pronta para profissionalizar a sua Gestão, mas devemos ter a capacidade de ouvir e dialogar com a comunidade colorada para encontrarmos os caminhos. Reuniões, seminários internos e audiências públicas ampliam a participação direta do associado na construção das decisões do Clube. Nosso novo Estatuto precisa avançar na profissionalização do Clube.

RESPEITO À PLURALIDADE
Respeitar as diferenças, permitindo participação efetiva de todos os Conselheiros, observando suas individualidades, tanto nas discussões em Plenário, quanto nas Comissões Permanentes. A Mesa Diretiva deve atuar em prol de todos os Conselheiros, e não para atender interesses de alguns que tomam decisões e as remetem para “homologação” do Conselho.


A CHAPA 2 valoriza os Conselhos Deliberativo e Fiscal do nosso Inter e pretende fortalece-los, deixando de ser órgão homologatórios para assumir o relevante papel que lhes cabe no crescimento do clube. 

sábado, 28 de fevereiro de 2015

O GREMISTA QUE EU CONVIDARIA PARA O GRENAL DA PAZ

Sou um saudosista. Admito. Acho que o cara vai ficando velho e tornar-se saudosista passa a ser uma obrigação moral. Ou neurológica, não sei bem. Meus conhecimentos de neurociências não vão a tanto. Eu, como todos os guris colorados que começaram a ir a futebol nos anos 1960, nos acostumamos a frequentar os Eucaliptos e o Olímpico, que na época só tinha o anel inferior. Nos GreNAIS nós, colorados, entrávamos pelos portões da Carlos Barbosa e tínhamos que nos deslocar pela frente da torcida do Grêmio até nosso reservado, no lado da Cascatinha, avenida que nem existia à época.
Passando pela frente da torcida deles corríamos o risco de, eventualmente, levar uma laranja nas costas arremessada sem força, só para sacanear, não para machucar. Raríssimamente alguém levava um “saquinho” cheio de líquido no lombo, mas isso era mais lenda do que realidade. Torcíamos, cada um para o seu time, e depois saímos pelos mesmos portões. Bons tempos. Nenhuma chance de morrer pela violência da torcida adversária. Ou da sua própria.
Agora com a experiência que se anuncia, de um setor do Beira-Rio para uma torcida mista, de colorados e convidados gremistas, no GRENAL 404,  coisa que sempre pensei ser possível, estas histórias dos 1960s reviveram na minha cabeça.
Fiquei pensando: que gremista eu convidaria para ir ao Beira-Rio?
Pensei no Marcolitos, meu primo, uma raridade gremista na família Souto, cara com quem ia a jogos do INTER e do Grêmio no final daquela década. Mas lembrei também de quantas brigas eu tive que me envolver por causa dele nas festas de adolescentes em que fomos juntos. Melhor escolher outro. Pensei no meu amigo Hilton. Grande cara, mas agora mora em Bento Gonçalves e está de casa nova. Acho que não vai querer descer da serra para um jogo. Poderia convidar outros tantos amigos gremistas, mas, dado o momento histórico em que essa iniciativa pode se transformar, este convite teria que ser um convite mais pensado, certeiro, preciso.
Mas quem?
Foi aí que lembrei de um verdadeiro cavalheiro tricolor que conheci. Cara educado e gentil. Bem mais velho que eu. Foi amigo do meu pai. Um sujeito calmo e tranquilo, que eu encontrava nas missas da manhã de domingo na igreja da Ressureição, no Colégio Anchieta. Sim. Este era o gremista “ficha um” para o meu convite. Um cara que se dedicou ao Grêmio de corpo e alma. Sempre era lembrado a participar de uma diretoria do coirmão quando as coisas não iam bem, especialmente nas finanças. Estava feita a escolha.

O fato é que não poderei convidá-lo, infelizmente. Ele não poderá estar comigo no Beira-Rio neste domingo, 1º de março de 2015. Não assistirá deste plano ao GRENAL DA PAZ, porque já não está entre nós. Nos deixou muito cedo. Mas saiba, Dr. Túlio Macedo, que o senhor era o gremista que eu convidaria, com muita honra, para assistir a esse jogo histórico. Esteja em paz, irmão.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O REPÓRTER TRAPALHÃO




Manhã de domingo. Sol sobre Porto Alegre. Calor agradável de meia-estação. O INTER jogava à tarde, pelo Campeonato Brasileiro, “em casa”, no Estádio do Vale, em Novo Hamburgo.
Acordei cedo, peguei o carro e saí. Liguei para o colega Eduardo Hausen, para ver se queria ir comigo. Ele iria um pouco mais tarde, com seu próprio carro. O presidente e outro dirigente do futebol tinham pernoitado com a delegação. Aproei o auto na direção da BR 116.
No caminho parei num posto de gasolina para abastecer e comprar uma água. Saía da loja de conveniência quando tocou o telefone.
-Alô.
- Alô. Dr. Luís César?
- Sim.
- Aqui é o FULANO 1, da Rádio TAL. Bom dia.
- Bom dia.
- O senhor poderia nos atender agora?
- Sim.
- Estamos apresentando o PROGRAMA X, com o comando do FULANO 2.
- Ok.
- Estamos terminando um bloco comercial. Mais trinta segundos e o FULANO 2 já chama o senhor. Ok?
- Claro. Aguardo.
Ouvi o final do comercial e entrou o áudio da trilha característica do programa e logo o apresentador entrou informando o horário, como de costume.
Largou aquele papo do “temos na linha o Dr. ...”
Fez algumas perguntas pertinentes, mas me concedeu o tempo que precisei para desenvolver o raciocínio. Sabe como é, sou professor como segunda profissão, desde os 18 anos, ou seja, há quase 40 anos.
O hábito professoral me impele a tentar sempre desenvolver um raciocínio de forma que possa ser entendido por todos os alunos, dos mais brilhantes aos outros.
Conversamos, dei o meu recado, procurei responder às perguntas do apresentador. Encerramos a conversa de forma amigável e cordial. Entrei no carro. Comecei a arrumar as coisas para partir, ouvindo a rádio. Foi quando entrou uma mensagem SMS no celular. No ar o apresentador do PROGRAMA X, da emissora TAL, estava chamando o repórter que fazia o setor do INTER naquela manhã e estava já lá, em Novo Hamburgo, no hotel da concentração. Olhei o celular antes de dar partida no veículo. O número estava identificado como do repórter, que naquele exato instante eu ouvia repercutir minha entrevista com o apresentador. Abri a mensagem. O cara tinha enviado uma mensagem para a produção do programa em questão me sacaneando. Eu estava com ele no celular e no áudio do rádio ao mesmo tempo. No celular me zoando. No ar, na rádio, falando sério e sendo respeitoso nas menções que fazia a meu respeito. Comecei a rir. O cara tinha errado o envio da mensagem, destinada ao seu colega que estava no estúdio, na produção do programa, e me enviara o texto com que queria me ridicularizar. Comecei a rir mais e mais. Quando me recobrei, mandei a ele uma mensagem SMS dando conta do equívoco cometido. Um segundo depois entrou outra mensagem dizendo que ele não tinha intenção, que blá, blá, blá. Eu não conseguia conter o riso imaginando a cara dele.
Quando cheguei ao saguão do hotel, em Novo Hamburgo, o cara estava lá, branco. Veio em minha direção se desculpando por ter nascido e blá, blá, blá.

Muito engraçado. Não foi a primeira vez que ele me sacaneou, mas daquela vez se deu mal.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

SINALIZAÇÃO AO MERCADO


     Dirigentes usam e abusam dos microfones oferecidos pelos veículos de comunicação para sinalizar ao chamado "mercado da bola". A oferta de um espaço num microfone de uma emissora, ou de um site, é oportunidade preciosa e estratégica para o dirigente veicular, deliberadamente, temas de interesse do clube e sua eventual disposição, ou não, para negociar. É uma manobra geralmente defensiva, isto é, a chance de contra-atacar as investidas agudas perpetradas por procuradores, empresários e agentes de jogadores e outros profissionais. Esses caras usam as redações de forma magistral para criar a atmosfera favorável aos seus interesses de negócios. Usam de forma consentida, bem entendido.
     Houve uma ocasião em 2013 em que todos queriam negociar um jogador titular do INTER para fora do país. Todos menos a Comissão Técnica e os dirigentes do futebol colorado. A pressão era imensa. O jogador estava tão seduzido pela proposta que trouxe familiares a Porto Alegre para pressionar o presidente. O empresário, que detinha participação expressiva nos direitos econômicos do jogador forçava a porta presidencial e jogava pesado pulverizando factoides aos quatro ventos. Conselheiros mais chegados ao poder, aqueles que sabem tudo sem nunca ter pisado o solo sagrado do Departamento de Futebol Profissional, aconselhavam a vender porque, afinal, segue valendo a máxima estúpida de que o jogador só fica num clube se ele quer. Não acredito nisso. Tive oportunidade de dizer isso pessoalmente ao Paulo André, na época o líder mais visível do Bom Senso Futebol Clube, na presença de lideranças do grupo de jogadores do INTER, que o levaram a falar comigo em São Paulo, após nosso último jogo contra o Corinthians.
     Como a pressão era enorme e só me perguntavam sobre a venda do referido jogador, como se fosse fato consumado, fui até o reservado da imprensa, ao lado do campo de treino no CT do Parque Gigante, e declarei para todos:
- Quero comunicar que o INTER está no mercado, nesta Janela de Transferências, comprando e não vendendo.
     Quando digo isso, e o pessoal repercutiu bastante, digo ao mercado duas coisas:
  1. Para quem quer vender jogadores: venha me oferecer jogadores para reforçar meu time. Estamos interessados em bons jogadores.
  2. Para quem quer comprar um jogador nosso: venha com uma oferta muito boa, mas muito boa mesmo, senão nem vou te atender.
     Funcionou. O jogador foi vendido, depois de muita resistência, com um ágio de 150%.