A situação era essa. O que se ouvia era que a diretoria do
INTER estava produzindo um desmonte no time. Vendia e não contratava. A rapidez
para vender se contrapunha à demora em contratar. Não contente com as vendas de
Fred e Moledo, dizia-se, a diretoria venderia Damião na primeira oferta que
recebesse. A tensão ia aumentando. A emoção ia virando comoção. O prazo de
fechamento da “janela” ia se aproximando. A ansiedade coletiva ia crescendo. E
a gente trabalhando, sem poder dizer nada.
O consenso generalizado indicava que o INTER precisava de um
meia, para dividir com D’Alessandro criação e articulação, e um atacante para
substituir Damião que, entendiam todos, seria vendido. Os fatos indicavam que
nem um, o meia, nem outro, o atacante, viriam do Brasil. Não havia jogadores
desse porte disponíveis para negócio no país. A lógica indicava que teriam que
vir de fora. Lá fora, no meio do ano, as equipes ou estavam envolvidas em
finais de campeonatos, ou os jogadores estavam iniciando férias. Tudo ficava mais
difícil. Dois jogadores que estiveram na pauta e estavam sendo negociados estavam
envolvidos nas fases decisivas da Libertadores
da América. Um deles era I.Scocco. O outro, que não será mencionado em respeito
a ele mesmo, desistiu na última hora. Seria uma grande contratação.
O caldeirão borbulhava. A gente corria, trabalhava, ligava, viajava, negociava. Um negócio ia evoluindo rapidamente e aí parava. Surgia um entrave.
O representante do jogador não respondia mais aos telefonemas, mensagens,
emails. Silêncio. Um dia, dois dias, três dias. Nada. Outro negócio, que se
julgava encerrado, voltava a se abrir e começava tudo de novo. E o tempo passando. E
o fechamento da “janela” se aproximando. Uma negociação, que vazara e estava
bem avançada, esbarrara numa exigência absurda: um milhão de reais líquidos por
mês para o jogador, durante dois anos, tudo na carteira de trabalho, sob o regime da CLT. O
INTER arcaria com todos os demais custos de impostos, taxas, previdência e o
que mais viesse. A conta chegaria a mais de cinquenta milhões nos dois anos.
Era a crise! O desastre! Lembrei-me da história de um
cirurgião norte-americano que, no final do século XIX, estava operando uma
paciente em seu consultório, numa pequena cidade do meio-oeste, enquanto a turba,
do lado de fora, montava uma sólida estrutura de madeira para enforcá-lo se a
cirurgia não fosse bem sucedida.
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