quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

TINGA

   Tinga é um cavalheiro, um cidadão. É um cara alegre e educado. Lamentei quando veio nos pedir para sair, após a conquista da Libertadores de 2006. Lamentei mais ainda que não estivesse conosco no Japão, no fim do ano; que não tivesse tido a oportunidade de estar no pódio do Mundial de Clubes 2006. Ele merecia pelo que fez na Libertadores e pela importância que teve para aquele grupo.
   Lembro que ele não viajou ao Paraguai, para o jogo contra o Libertad. Ficou tratando uma lesão em Porto Alegre. Na véspera do jogo o motivador, Evandro Mota, fez uma sessão no cinema do hotel. Passou um filme de uns seis minutos. Era uma entrevista com Tinga. Ele mandava uma mensagem de ânimo, de confiança nas possibilidades do INTER contra o clube paraguaio. Encerrava mandando mensagens individuais a cada jogador que tinha viajado. Tratava a todos por aqueles apelidos com que os jogadores se tratam quando estão sós; aqueles apelidos secretos que eles só usam para chamar uns aos outros quando estão protegidos de olhos e ouvidos profanos. Foi uma festa. Os jogadores não paravam de rir. Divertiram-se muito com a mensagem do querido colega, que não os tinha acompanhado por força maior. Foi muito legal. Alegrou a todos, mesmo não estando lá, e contribuiu, de longe, para mais um sucesso daquela campanha.
   O desaforo que lhe fizeram no Peru não tem nome.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

NILMAR E SAVIOLA VI - A NEGOCIAÇÃO COM SAVIOLA

Javier Saviola foi uma negociação estratégica. Se o contratássemos, a venda de Damião ficaria prejudicada. Pelo menos era o que eu pensava e era isso que eu queria, manter Damião. Saviola é um atacante de lado, não seria um substituto autêntico para o Leandro, e é baixo para os padrões do futebol atual, admito, mas é um grande jogador. Eu, pessoalmente, imaginava, já à época, uma formação que depois Clemer botou em campo: um 4-2-3-1. Meu time ideal ataca em tempo integral; martela o adversário; não dá sossego ao seu sistema defensivo; preocupa todo o meio campo adversário fazendo com que se dediquem mais em defender do que em nos incomodar. SOU CONTRA ESSA IDEOLOGIA DEFENSIVISTA QUE GRASSA POR AÍ, protagonizada por treinadores intimidados e temerosos que arriscam pouco, que só se preocupam em defender-se, mesmo que estejam enfrentando a Associação Atlética Biriri-Bororó. ACREDITO NA MÁXIMA QUE “A MELHOR DEFESA É O ATAQUE”. Acredito profundamente nisso. Quem quer ganhar alguma coisa tem que arriscar. A economia ensina que o lucro é a remuneração do risco. Respeito quem pensa diferente, quem é pela segurança, mas eu penso assim. E a gente tem que ter convicções no futebol. Enquanto o nosso meio cria e o nosso ataque martela, nossa defesa está protegida.
Estava decidido a me opor à venda de Damião, como me opus à venda do Fred até o fim. Acreditava que ele, Damião, recuperaria seu futebol no segundo semestre, como acredito que vai recuperar ainda, porque é um grande jogador e um grande profissional, acima de tudo. Sonhava o time, do meio para frente, com Saviola,  na direita, D’Alessandro, no meio, e Forlán, ou Otávio, na esquerda, formando uma linha de três logo atrás do Leandro Damião. Forlán ainda era incógnita, não sabia se voltaria a mostrar seu futebol que encantou a todos na Copa da África do Sul, mas achava, à época, que deveria ser testado com outra parceria. Forlán é lento, mas dá velocidade na bola, antecipa a jogada. Otávio é talento e muita vivacidade, mas também é baixo. Teríamos duas opções para o lado esquerdo. Testaríamos para ver o que funcionaria melhor. 
Minha proposta não foi bem aceita, foi considerada por um dos convivas como de um “time faceirinho”. Ali eu comprovei que estava na parceria errada, mas era tarde.
Como não fui impedido, continuei tocando o negócio do Saviola.

Continua no próximo post

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

NILMAR E SAVIOLA V - NEGOCIAÇÃO DO NILMAR

   Como muitas negociações de jogadores param pelo caminho, muitas mesmo, uma tática que se tem usado é abrir várias negociações e conduzi-las em paralelo. Os agentes dos jogadores fazem o mesmo, disparam negociações com mais de um clube e escolhem no final o destino do jogador. É a prática.
   Nilmar era o sonho de uma parcela expressiva da torcida colorada e de alguns dirigentes também. Ele estava em férias no Brasil. Ficou um tempo no interior do Paraná descansando e passou alguns dias em POA. Sua esposa estava grávida e ficaria por aqui para ter a criança junto da família, não retornaria com ele para as Arábias. Um dirigente foi ao Paraná falar com ele, enquanto por aqui o interesse do INTER já tinha sido manifestado ao seu procurador. Queríamos um sinal do agente e do jogador que nos permitisse procurar o escritório de advogados que representa o Al-Rayyan, do Qatar, no Brasil. O jogador disse que estava bem lá e que sua disposição era de cumprir seu contrato com o clube árabe. Para vir, só se fosse liberado pelo clube que detinha seu vínculo. Não nos proibiu de fazer ofertas. O INTER apresentou uma proposta de empréstimo: REJEITADA. Apresentou uma proposta de compra: REJEITADA.  Aumentou a oferta de forma MUITO EXPRESSIVA. O Fabiano Baldasso levantou suspeitas, no ar, sobre a veracidade das propostas do INTER. Eu ouvi. Intercedi junto ao presidente para que apresentasse os documentos das propostas ao jornalista. O presidente aceitou, desde que não ficassem visíveis os valores. Comuniquei ao Baldasso que ele podia ir ao gabinete do Giovanni ver as propostas. Que eu saiba ele nunca foi.
   Eu tinha a certeza de que o Sheik aceitaria essa última proposta. Tudo ficaria certo. Nilmar voltaria ao INTER; ficaria perto da esposa no final da gestação e até poderia assistir ao parto.
   A resposta recebida foi: 
- POR FAVOR NÃO MANDEM MAIS PROPOSTAS. O SHEIK ADMITE VENDER O TIME, MAS NÃO ADMITE VENDER O NILMAR.
   Alguns dirigentes mais apegados às tradições entendem que, se numa situação dessas o jogador fizer uma "ceninha", um muxoxo, der uma demonstração de contrariedade por não poder voltar, os dirigentes vão se sensibilizar e liberá-lo. Não é meu caso. Sou pelo profissionalismo no futebol. Nilmar também. Deixou claro que não exerceria qualquer pressão indevida sobre os dirigentes do Al-Rayyan. Se ele tinha contrato com o clube e se o clube queria que ele o cumprisse, ele o cumpriria. Fiquei frustrado pelo fim do negócio, mas aplaudi a atitude do jogador. Se o contrato dele fosse com o INTER, naquele momento, eu gostaria que ele tivesse tido a mesma atitude para com o nosso clube.

OS NEGÓCIOS DE SAVIOLA E SCOCCO VEM NA SEQUÊNCIA 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

NILMAR E SAVIOLA IV - AS NEGOCIAÇÕES COMEÇAM

   Chegamos então encaminhamento das negociações, o que deve começar a aplacar a ansiedade de muitos leitores. Só para lembrar o contexto:

  1. A janela para contratar jogadores de fora estava se fechando em final de julho.
  2. A janela para vendas duraria ainda mais um mês, até o final de agosto.
  3. A chance de Damião sair nessa janela de agosto era muito grande.
  4. Não havia recursos para tudo o que se entendia que a equipe precisava em termos de reforços para a continuidade da temporada.
  5. Direção e Comissão Técnica chegaram ao entendimento compartilhado que um meia e um atacante eram as prioridades.
   Antes de entrar em negociações, propriamente ditas, há uma fase inicial de sondagens. Vários nomes foram aventados e contatos foram feitos para saber sobre a situação dos jogadores, sobre a possibilidade de virem, sobre eventual interesse em vir, sobre a satisfação deles nos clubes atuais e por aí vai. 
   A ideia era que entre os dois jogadores que traríamos um fosse estrangeiro e o outro brasileiro. Só vou citar alguns dos que foram sondados. Entre os que já tinham passado pelo INTER buscamos informações sobre a situação de Nilmar, Giuliano, Tayson e Alex. Entre os brasileiros que estavam fora: Júlio Baptista e Robinho. Entre os estrangeiros Saviola, Scocco, Lucho González e Lisandro López, além daquele que não vou citar. Alguns foram imediatamente descartados em função das informações colhidas. Pessoalmente falei com o representante do Giuliano, que me informou que ele estava bem na Ucrânia; que deveria continuar lá, que para trazê-lo somente recomprando o jogador e que nos preparássemos para investir muito alto, se tivéssemos interesse em continuar a conversa. Com pesar, descartei a continuidade do negócio. 
   Também estive encarregado da negociação com Saviola. E tinha um forte aliado nessa diligência.
   Alex esteve em Porto Alegre com a família. Veio providenciar uma tramitação de documentos no Consulado Italiano. Hospedou-se num hotel da cidade. O Dr. Eduardo Hausen, assessor do futebol profissional do INTER descobriu. Falou com ele por telefone e, depois, foi recebido para um café da manhã no hotel onde o jogador estava.

CONTINUA NO PRÓXIMO POST
SEGUE MAIS UMA FOTO DAS MINHAS



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

NILMAR E SAVIOLA III - NECESSIDADE DE PRIORIZAR

   Embora a zaga carecesse de atenção, a gente reconhecia isso, a substituição de L. Damião, virtualmente negociado, segundo diziam, e a contratação de um meia, que dividisse com D’Ale as tarefas do meio-campo, eram prioridades. Àquela altura Ernando já tinha um pré-contrato com o INTER, ou estava por assiná-lo. Não lembro bem. Ele poderia deixar o Goiás no meio do ano mediante uma indenização ao clube pelos meses de contrato não cumpridos. Bastava que se fizesse uma negociação entre as diretorias e se chegasse a um acordo sobre valores. Historicamente nunca foi fácil negociar com as diretorias do Goiás, mas penso que se tivéssemos insistido, talvez ele tivesse vindo. Era uma questão de acertar. Uma conversa com a Comissão Técnica sobre as prioridades de contratação e o montante de recursos necessários a uma eventual indenização ao clube de origem sepultaram a antecipação da vinda de Ernando. Não sei se teria sido solução. Mas era um reforço para a zaga.
   Ficou assim, não havendo recursos para contratar um time inteiro tínhamos que priorizar. Só para lembrar, 2013 foi o ano sem o Beira-Rio. O caixa do clube estava bastante combalido. Havia uma quebra grande das receitas, que se somava a aumentos de custos com logística e com locação de estádios para o INTER mandar seus jogos em "casa". Mas isso não fazia sentido para o senso comum. Afinal o clube tinha negociado Moledo e Fred, não tinha? Algumas pessoas pensam que quando se vende um jogador, o jogador sai por uma porta e o dinheiro entra imediatamente no caixa. Não é assim. Todos os pagamentos, de qualquer tipo de negócio de jogadores, são parcelados em quatro, cinco, seis vezes. E as parcelas desse tipo de negócio não são mensais, como na economia doméstica. São geralmente anuais ou semestrais. Poucas vezes se consegue que a periodicidade dos pagamentos seja inferior a seis meses. A economia ensina que as necessidades são ilimitadas e os recursos são sempre limitados. Não havendo recursos para tudo o que se precisava chegou-se à conclusão que as prioridades seriam meias e atacantes. E agora é que vamos chegar mesmo nos negócios de Nilmar e Saviola. Mas isso será no próximo post.