Sou um saudosista. Admito. Acho que
o cara vai ficando velho e tornar-se saudosista passa a ser uma obrigação
moral. Ou neurológica, não sei bem. Meus conhecimentos de neurociências não vão
a tanto. Eu, como todos os guris colorados que começaram a ir a futebol nos
anos 1960, nos acostumamos a frequentar os Eucaliptos e o Olímpico, que na
época só tinha o anel inferior. Nos GreNAIS nós, colorados, entrávamos pelos
portões da Carlos Barbosa e tínhamos que nos deslocar pela frente da torcida do
Grêmio até nosso reservado, no lado da Cascatinha, avenida que nem existia à
época.
Passando pela frente da torcida
deles corríamos o risco de, eventualmente, levar uma laranja nas costas
arremessada sem força, só para sacanear, não para machucar. Raríssimamente
alguém levava um “saquinho” cheio de líquido no lombo, mas isso era mais lenda
do que realidade. Torcíamos, cada um para o seu time, e depois saímos pelos mesmos
portões. Bons tempos. Nenhuma chance de morrer pela violência da torcida
adversária. Ou da sua própria.
Agora com a experiência que se
anuncia, de um setor do Beira-Rio para uma torcida mista, de colorados e
convidados gremistas, no GRENAL 404, coisa
que sempre pensei ser possível, estas histórias dos 1960s reviveram na minha
cabeça.
Fiquei pensando: que gremista eu
convidaria para ir ao Beira-Rio?
Pensei no Marcolitos, meu primo,
uma raridade gremista na família Souto, cara com quem ia a jogos do INTER e do
Grêmio no final daquela década. Mas lembrei também de quantas brigas eu tive
que me envolver por causa dele nas festas de adolescentes em que fomos juntos.
Melhor escolher outro. Pensei no meu amigo Hilton. Grande cara, mas agora mora
em Bento Gonçalves e está de casa nova. Acho que não vai querer descer da serra
para um jogo. Poderia convidar outros tantos amigos gremistas, mas, dado o
momento histórico em que essa iniciativa pode se transformar, este convite
teria que ser um convite mais pensado, certeiro, preciso.
Mas quem?
Foi aí que lembrei de um verdadeiro
cavalheiro tricolor que conheci. Cara educado e gentil. Bem mais velho que eu. Foi
amigo do meu pai. Um sujeito calmo e tranquilo, que eu encontrava nas missas da
manhã de domingo na igreja da Ressureição, no Colégio Anchieta. Sim. Este era o
gremista “ficha um” para o meu convite. Um cara que se dedicou ao Grêmio de
corpo e alma. Sempre era lembrado a participar de uma diretoria do coirmão
quando as coisas não iam bem, especialmente nas finanças. Estava feita a
escolha.
O fato é que não poderei
convidá-lo, infelizmente. Ele não poderá estar comigo no Beira-Rio neste
domingo, 1º de março de 2015. Não assistirá deste plano ao GRENAL DA PAZ,
porque já não está entre nós. Nos deixou muito cedo. Mas saiba, Dr. Túlio
Macedo, que o senhor era o gremista que eu convidaria, com muita honra, para
assistir a esse jogo histórico. Esteja em paz, irmão.
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