quarta-feira, 23 de novembro de 2016

FERNANDO CARVALHO LIVROU ROTH DO CARIMBO MALDITO

A maior lição que aprendi com a experiência foi que, após os cinquenta anos, o único pecado para qual não há perdão é o da ingenuidade. Fernando Carvalho demitiu Celso Juarez Roth a três jogos do final do campeonato brasileiro de 2016. Fernando é um homem inteligente, muito inteligente, do tipo que, como se diz lá fora, “não prega prego sem estopa”.
Quando demitiu Celso Roth, suas explicações, pelo menos as que foram levadas a público, não me convenceram. Fiquei pensando sobre quais seriam as razões reais da demissão do treinador. Falta de confiança de Fernando Carvalho no trabalho de Roth? Não, Carvalho continua confiando. Roth é o exemplo mais bem-acabado do tipo de futebol que agrada o dirigente colorado. Joga “fechadinho, por uma uma bola”; preocupa-se em defender, porque “se não tomar gol, não perde o jogo”. É nisso que Carvalho acredita. É isso que Roth faz: times desequilibrados, com preocupação excessiva com as tarefas defensivas e absolutamente incompetentes na armação, articulação e finalização. Resultado: não faz gols.
O INTER está à beira do rebaixamento porque não faz gols!!!
O INTER fez apenas 33 gols em 36 jogos. Só dois, dos três times já rebaixados, fizeram menos. O time do INTER tem que “parir uma bigorna” para fazer um gol. Quando faz, se fecha na defesa para não tomar gols. E toma. O INTER fez só 33 gols, em 36 jogos, e tomou 40.
MAS AFINAL, POR QUE FERNANDO CARVALHO DEMITIU ROTH A TRÊS JOGOS DO FINAL DO BRASILEIRÃO?

CONCLUÍ QUE FOI PARA PROTEGER ROTH. FERNANDO CARVALHO NÃO PERMITIU QUE CELSO GANHASSE O CARIMBO MALDITO EM SEU PASSAPORTE PROFISSIONAL. NINGUÉM PODERÁ DIZER, SEM CHANCE DE CONTESTAÇÃO, QUE ROTH REBAIXOU O INTER. NÃO! ELE SAIU ANTES.  CARVALHO FOI LEAL A CELSO ROTH. MUITO LEAL. DEVERIA PENSAR MAIS NO INTER, MAS FOI LEAL A ROTH.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O DILEMA DO DIRIGENTE


RELACIONAMENTO COM O ÍDOLO E COM AQUELES POR QUEM A TORCIDA NÃO TEM ADMIRAÇÃO

Um dos principais dilemas do dirigente está no relacionamento com o jogador que atinge o status de ídolo da torcida do clube. O torcedor que idolatra um jogador o vê com os olhos da idealização. O ídolo, aos olhos do fã, é perfeito. O cara, na visão do aficionado, “joga muito”, adora o clube, é fiel e leal à instituição, respeita as autoridades e hierarquias. Ele só aceita negócios que atendem também aos interesses do clube; nunca trai acordos. O ídolo não tem mau-hálito, não vomita, não tem diarreia nem febre; não tem defeitos. É bom caráter e “bom de vestiário”. Conquistou tudo com o talento que Deus lhe deu, mas também com muito trabalho, muita disciplina, sendo ético e leal. Se atingiu o estrelato, acredita o fã, foi por seus méritos, não por benesses de quem quer que seja. O ídolo ama o clube e sua torcida.

O dirigente vê outro cara. Vê o ser humano. Testemunha seus momentos de fraqueza, de ansiedade, de medo. Presencia suas manifestações de egoísmo, de vaidade, de “estrelismo”, de “marra”, de “máscara”. Conhece suas virtudes, mas conhece seus vícios, seus desvios de conduta, suas imperfeições humanas. Conhece, mas não pode, sob nenhuma hipótese, trazer a público nada disso. O ídolo é intocável. E tem que ser assim.

Na outra ponta, o dirigente conhece os dramas vivenciados pelos jogadores que, como declaram alguns torcedores mais exaltados e taxativos, “não podem vestir a camisa do clube”. Alguns são sujeitos honestos, corretos, trabalhadores, dedicados à família. Muitas vezes são caras que fizeram sacrifícios pessoais imensos, desde tenra idade, para chegar ao grande clube. Apartaram-se cedo de suas famílias; viveram em alojamentos e em condições de higiene e alimentação inimagináveis nos tempos atuais, onde a vigilância sanitária é exigente e temos os Conselhos Tutelares da Infância e Juventude, também muito atentos. Hoje as coisas mudaram muito. Melhoraram bastante, mas uma criança viver apartada da família em busca de um sonho, por melhores que sejam as condições oferecidas por clubes com boa estrutura, é sempre um drama pessoal e familiar. E para estes, que não caem nas graças da maioria da torcida, não há perdão. São os responsáveis pelas derrotas, pelas desclassificações.

O dirigente tem que viver com isto, com estes dilemas discretos: o ídolo perfeito e o “perna-de-pau”, que não tem nada de bom. É assim.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

"PRIMEIRA PÁGINA": DISTRAÇÃO

"PRIMEIRA PÁGINA": DISTRAÇÃO:       Algumas lições aprendi nestes 25 anos de carreira na gestão de serviços de saúde. Uma delas, talvez a mais importante, é que as chanc...

DISTRAÇÃO

     Algumas lições aprendi nestes 25 anos de carreira na gestão de serviços de saúde. Uma delas, talvez a mais importante, é que as chances de sucesso de um projeto aumentam muito se aplicarmos os princípios da SIMPLICIDADE e do FOCO. A simplicidade é simples assim: fazer tudo da forma mais simples possível, desde que garanta o resultado. Simples. Simples mesmo, sem complicar. O foco é manter em perspectiva apenas aquelas variáveis, aqueles fatos e dados DIRETAMENTE relacionados aos objetivos que se quer atingir. Qualquer outro vai, sem nenhuma dúvida, desviar nossa atenção, ou seja, vai nos DISTRAIR. Afrontar estes dois princípios de ação e gerenciamento é conspirar contra o sucesso do projeto, do empreendimento, da gestão.
     Na última semana abusei da paciência dos meus colegas, das minhas colegas, de Conselho Deliberativo (CD) do INTER para dizer exatamente isto. As coisas estão acontecendo de uma forma desordenada, incompreensível, quase opostas à lógica na gestão do clube, em especial do futebol, e o Conselho está DISTRAÍDO, discutindo a saída do VP Jurídico, debatendo manifestações preliminares de interesse em exploração do Gigantinho e da área sul do Complexo Beira-Rio, polemizando sobre quais personalidades coloradas vamos homenagear como nomes das ruas que cercam nosso estádio, propondo novas categorias de sócios, entre outros assuntos. Para ser justo, antes de mim, e na mesma linha, manifestou-se a conselheira Janice Cardoso. Além de todos estes temas, todos relevantes, estamos imersos no processo de reforma do estatuto do clube e do regimento interno do Conselho Deliberativo. Tivemos eleições para a mesa diretora do CD. Tivemos criação e nomeação de comissões permanentes do Conselho. Tivemos apresentações da situação econômico-financeira do INTER. Discutimos o Profut, a proposta da diretoria de contrair um empréstimo bancário que compromete as contas do clube por 38 meses.

     O Conselho está, sem nenhuma dúvida, trabalhando muito. Os assuntos são muito relevantes, mas estão DISTRAINDO o CD. Enquanto isto a diretoria vai erodindo a incipiente estrutura profissional que o clube tinha, nomeando apoiadores políticos para comandar áreas antes gerenciadas por profissionais do ramo; CONTRATANDO JOGADORES DE ALTÍSSIMO RISCO DE FRACASSO POR REMUNERAÇÃO ABSURDAMENTE ELEVADA E PRAZOS INCOMPREENSIVELMENTE ELÁSTICOS E CRIANDO “FATOS NOVOS” QUE REDUNDARAM NO MAIOR VEXAME QUE EU, COMO COLORADO, JAMAIS IMAGINEI VIVER. DISTRAÇÃO, MUITA DISTRAÇÃO.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno e Adriano Imperador: futebol x marketing

     Nada tenho contra fazer bom marketing num clube de futebol. O INTER tem longa experiência em marketing profissional. Atualmente nem tão profissional assim. Mas executivo de marketing de clube de futebol TEM QUE SER DE FUTEBOL. Não pode ficar querendo sortear ovelhas no intervalo do jogo. Agronegócio é uma coisa, futebol é outra.
     Mas mesmo que sejam de futebol, profissionais de marketing tem que ser, antes, PROFISSIONAIS DE MARKETING. E profissionais de marketing trabalham com pesquisa, não com intuição, do tipo: 
- Bah! Tive uma grande sacada!
     Se for assim, começou mal. Marketing de futebol, embora pareça óbvio, é a interseção das atividades de marketing com a experiência com futebol. Ronaldinho no Fluminense. O que me dizem? Sua contratação pode ser qualificada como resultado de boas práticas de marketing iluminadas pela experiência com futebol? Qual sua opinião? Se eu pudesse imaginar o momento da tomada de decisão de quem o contratou, sobrepondo a lógica do marketing intuitivo à do futebol, eu apostaria que, em algum momento, alguém disse para os circunstantes: 
- Tive uma grande sacada!
   Há alguns anos o Corinthians contratou o "Fenômeno". A experiência foi melhor, admito. Ronaldo não comprometeu, ao contrário, esforçou-se. Não foi patético. Fez alguns gols muito bonitos. Coisa do gênio que ele foi como atacante agudo, central, finalizador. Mas, da mesma maneira, foi uma intrusão do marketing no futebol. Alguém teve uma grande sacada no Corinthians.
     Adriano Imperador foi cogitado para o INTER. Teve-se que deslocar um médico e um fisiologista para avaliá-lo e comprovar o que se supunha: não tinha como dar certo. Naquele caso, no entanto, o marketing do clube não teve culpa. A confusão foi provocada por um agente de negócios de jogadores, que cercou todos os pontos frágeis da estrutura do futebol colorado. Só os pontos sensíveis. Muito preciso o movimento do cara.
     É por isso que afirmo e reafirmo: dirigente não deve ser "boleiro", deve ser dirigente. E profissional de marketing, em clube de futebol, tem que ser profissional. Só isso.

    
     
     

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Piffero e Bolzan estão desarticulando a estrutura do futebol

     Sabe-se lá por que razão, mas o fato é que nem INTER, nem GRÊMIO têm hoje um Vice-Presidente dedicado ao futebol. Eles têm vices eleitos, vices de administração, vices de finanças, de marketing, mas não têm um Vice de Futebol. É como se um jornal não tivesse um diretor de redação; como se um hospital não tivesse um diretor médico; como se uma construtora não tivesse um diretor de engenharia.

         VOU DEFENDER AQUI A IDEIA DE QUE ESTE FATO SÓ DEMONSTRA QUE O QUE NÃO HÁ MESMO É ESTRATÉGIA 

     O economista e acadêmico norte-americano, Prof. Neil W. Chamberlain escreveu, certa feita, que a estrutura organizacional é a primeira forma de implementação da estratégia. Ou seja, o negócio principal, o core business, tem que ter posição destacada seja no organograma, seja em que forma for de representação da estrutura organizacional. Quando, num CLUBE DE FUTEBOL, se prescinde de um dirigente dedicado ao futebol, EM IGUAL NÍVEL HIERÁRQUICO dos demais dirigentes de administração, finanças, marketing, jurídico, etc., ISTO DIZ MUITA COISA. É uma daquelas OMISSÕES ELOQUENTES; um hiato que significa mais do que apenas isso. Trata-se de uma demonstração inequívoca da carência de estratégia. Um VP de Futebol é um anteparo importante para a posição do presidente, que pode aparecer como uma instância de recurso, na eventualidade disto ser necessário. A hiperexposição do presidente tira-lhe a possibilidade de atuar como um mediador de crises  e, acreditem, crises num "vestiário" é o que não falta. O VP deve fazer, se for leal ao presidente, o papel do "tira malvado", enquanto o presidente posa de diplomata, conciliador, estadista.
     Piffero e Bolzan estão equivocados ao centralizar demasiadamente o poder; em não contar com um VP de Futebol. Piffero, como já foi dirigente de futebol, e dos bons, não deve estar fazendo isto por vaidade. Pode ser por falta de confiança nos que o cercam. Pode ser por outro motivo, não sei. Mas erra ao não definir claramente, ao não conceder a algum de seus acólitos a investidura na responsabilidade do cargo. Os que o acompanham no futebol me parecem, salvo melhor juízo, acomodados, confortáveis numa posição caudatária. Se funcionar bem, eles estão lá. Se der errado, a culpa não foi deles.
     Bolzan eu não conheço. Só sei, pelas informações que tenho e que são de boas fontes, que é bom gestor. É corajoso. Não joga para a torcida. Faz aquilo que veio para fazer: garantir a sobrevivência e a perenidade do Grêmio. Mas erra também, ao centralizar as coisas do futebol. Deve estar ávido para deleitar-se com a possibilidade de conhecer por dentro essa máquina, que é um departamento de futebol. Esta tentação se abate sobre todos quantos têm a oportunidade de transitar "por trás da cortina". É normal. Ainda mais sendo o presidente. Mas é um equívoco, que pode ricochetear e feri-lo mortalmente.